Quando eu era criança ouvia várias histórias que os adultos contavam. Meus pais e seus amigos contavam causos da região que morávamos. Histórias de lobisomem, da alma da mulher que aparecia perto dos trilhos do trem, de mulheres que se transformavam em bruxas as quais entravam nas adegas de vinho pela fechadura da porta e amanheciam despida, e tantas outras histórias que de vez em quando surgem na minha memória. Parecia real, eu ficava ouvindo tudo atentamente, depois quando chegava na hora de dormir eu ficava com medo. Hoje entendo que se tratava da cultura deles, acreditavam no que falavam, eram supersticiosos, o famoso conhecimento popular. São muitas lembranças, lembro que quando a minha mãe trocava as fronhas do meu travesseiro, eu encontrava o meu bico, o qual eu escondia, porque ouvia muito os adultos dizerem que eu já era bem grandinha para chupar bico, acredito eu devia ter uns quatro anos de idade...
Eu adorava ir ao dentista e ia sozinha colocar flúor, naquela época não havia problemas de uma criança ir sozinha no médico, até porque, o posto de saúde era uma quadra depois do lugar onde eu morava e porque também lá todos se conheciam. E aquele mingau de maizena e o café com leite na mamadeira que o meu pai preparava quando eu era criança. Ah! Que saudade daquele tempo! Eu vivia num mundo de fantasia, longe de preocupações. Hoje quando tomo mingau ou café com leite, lembro-me da minha infância, parece que voltei no passado... Com cinco anos de idade, eu ia de manhã cedo para cozinha numa rotina matinal, meu pai fazia fogo no fogão à lenha, preparava o café no bule com um gostoso revirado que variava com um bolinho de chuva, aipim frito pão caseiro, etc. Era um momento único em que eu sentava na perna dele para saborear aquele café quentinho e gostoso. Foi naqueles momentos que aprendi as letras do alfabeto, que meu pai cantava algumas músicas e dizia versinhos para mim. Ele tinha um caderno, onde fazia desenhos para eu pintar e escrevia seus nomes, foi rapidinho para eu aprender o meu nome. Lembro que ele desenhava uma casa e dizia que o homem estava atrás dela. Eu olhava e olhava, mas não via nada, então ele me dizia que o homem estava escondido atrás da casa, por isso eu não enxergava. Do número dois ele fazia um pato, da letra J uma girafa ou de cabeça para baixo ele fazia um guarda chuva. Com ele aprendi a te noção de quantidade, catando e contando os grãos de feijão. Na verdade eu sempre fui muito curiosa e ele improvisava atividades para mim nos seus afazeres.
E aquele soninho da tarde, minha mãe sempre dizia para eu catar os cabelos dela pra ver se eu achava um piolho e eu não encontrava, então fazia que encontrava, matando-os com estalinhos na unha, que ingênua que eu era, porque tudo o que ela queria era um cafuné. Eu esperava ela dormir para fugir, quando eu chegava à porta do quarto, eu escutava: _ Aonde tu vai? Ainda não deu, continuo com coceira na cabeça e eu acabava dormindo abraçada nela.
Às vezes me pego rindo quando me lembro das travessuras da minha infância. Ah! Como era bom tomar banho de chuva! A minha casa ficava na descida da rua, nesta época não havia asfalto e a estrada tinha umas pequenas valetas que se criavam com a agua que corria em. Nossa! Eu deitava dentro delas e deixava aquela água marrom correr, fingia que eu estava num lago e depois para não levar bronca da minha mãe tomava banho na água que caia da calha, porque era limpa e era como uma cachoeira. Lembro também que a minha mãe era fã do Silvio Santos e vivia comprando carnês do Baú, depois ia à Loja do Baú para trocar por mercadorias. Uma vez ela foi a Porto Alegre trocar o carnê por produtos, os quais vieram embalados num papel de presente branco com uma estampa de bolas coloridas, lembro que algumas era cor amarelo, vermelho, azul marinho, verde e roxo. Eu peguei aquele papel e fui brincar, fiz bombom de papel para brincar que eu vendia, eles ficaram enormes eu oferecia para todos comprarem, mas para a minha surpresa o meu irmão Flávio pagou pelos bombons com dinheiro de verdade. No outro dia comprei um cachorro quente no colégio que eu estudava, lembro como se fosse hoje. Fiquei muito feliz e ainda sinto em minhas memórias o sabor daquele saboroso cachorro quente.
Emoções eu vivi, num mundo de faz de conta. Eu brincava com as crianças das casas mais próximas. Brincávamos de mamãe eu quero doce, papai não quer me dar; de gata cega, de pular sapata, improvisávamos uma sala de aula que quase sempre eu era a professora, fazíamos comida com as folhas das árvores, onde as panelas eram latas de leite ninho e abríamos as sementes de caqui para ver o que tinha dentro dela: garfinhos, colherinhas e facas. Na frente da casa tinha um pé de coqueiro, nós comíamos os coquinhos e colocava secar as sementes, depois de seco nós quebrávamos com uma pedra e comíamos as amêndoas de dentro. No fundo da minha casa tinha algumas árvores frutíferas, caqui, laranja de umbigo, pera, goiaba, abacate, bergamota, cana de açúcar, amora. Quase todas as tardes eu e minha mãe íamos colher as frutas para comer. Meu pai cuidava da horta e eu adorava mexer na terra, uma vez até machuquei o meu pé com uma enxada, porque eu achava que podia capinar virar a terra. Coisas de criança! Todo o final de tarde no verão, a minha mãe ia se sentar na sombra para tomar chimarrão com a vizinha e eu aproveitava para brincar com a filha dela. Nós nos divertíamos muito! Recordo que muitas vezes a mãe dela fazia mate para nós duas tomarmos com deliciosas fatias de pão com manteiga.
Eu adorava quando o meu irmão lustrava o chão para a minha mãe, ele me colocava em cima da roupa velha de lã e me arrastava pela casa toda, era muito divertido e eu quando cresci fazia isso para os meus sobrinhos. Quando a minha mãe ia receber a sua aposentadoria eu ia junto, na volta ela sempre comprava um presentinho pra mim e parava numa venda na Avenida Cruz de Malta em Charqueadas, hoje Funerária São Jorge, lá ela comprava um refrigerante para mim e o outro para ela, o nome do guaraná era Brahma. São tantas emoções que vivi, mas provavelmente quando eu terminar de escrever o meu museu de memórias, outras virão na minha mente. Agora mesmo acabei de me recordar de quando eu era criança, ela sempre me levava na pracinha do SESI, lembro-me que o seu Valmir, zelador, às vezes não queria deixar eu brincar porque achava que tinha mais que 10 anos, mas hoje eu percebo que era brincadeira, na verdade ele era muito brincalhão e adorava conversar com as crianças da pracinha.
Minha experiência escolar começou no antigo Colégio Cruz de Malta, hoje uma escola estadual. Lá comecei com seis anos no projeto. Eu adorava ir para a escola, lembro-me que serviam café da manhã, lanche e almoço. Nesta escola estudei até a 4ª série do antigo 1º grau, as professoras Vânia e Lucimara e a estagiária Eliane marcaram muito a minha vida escolar, até hoje me lembro delas com ternura. Em minhas memórias lembro-me dos recreios que eu brincava muito e andava na bicicleta da Luciana, que na época era lançamento da marca CECI. Ainda quando eu estava na 4ª série, minha mãe decidiu ir morar em São Leopoldo, RS na nossa casa em Charqueadas ficaram meus irmãos Daltro e Loiva, porque já eram adultos e trabalhavam. Quando vínhamos a Charqueadas para passear, na volta era uma tristeza, meu cachorrinho Totó ia atrás até a parada do ônibus e quando partíamos ele ia correndo atrás latindo, eu ficava olhando ele pela janela até que não o avistava mais e chorava. O totó era muito inteligente, da porta da frente eu dizia para ele ir aos fundos para ganhar comida e ele chegava primeiro que eu. Ele não tinha um dentinho e sorria para mim, morreu quando eu tinha 18 anos o que foi uma tristeza. Em São Leopoldo fui matriculada na Escola Municipal de 1ª a 4ª série Professora Zaira Hauschild no Bairro São Borja, lá fiz amizade com duas amigas especiais, a Professora Hilda Helena e a colega Silvana, que morava um pouco depois da minha casa em um sítio. Era vilarejo de zona rural, tinha até uma sanga e no caminho a seguir um morro com uma mata nativa. Quando nós tivemos que voltar, sofri muito por deixar a professora e amiga que eu tanto amava, ainda lembro-me delas, sinto vontade de revê-las, porque foram pessoas muito significativas em minha vida. A tia Helena, era como nós alunos há chamávamos, enviou um cartão dizendo que estava com saudades, depois nunca mais tive notícias dela e nem contato, porque guardei cartão, mas perdi o envelope. Em Charqueadas, estudei a 5ª série no Colégio Pio XII, hoje Escola Municipal Pio XII e quando passei para a 6ª série voltei a estudar no Colégio Cruz de Malta. Foi nesta época que fui obrigada a deixar a escola, porque a minha mãe ficou doente e eu era a única “mulher” da casa além dela, que podia tomar conta de tudo. Sofri muito por deixar a escola, porque eu sempre gostei muito de estudar, mas não desisti da leitura e da escrita. No meu mundinho eu lia os livros que eu podia ler e criava histórias. Um livro que marcou muito a minha vida nesta época, foi o livro Sozinha no Mundo, de José Maviel Monteiro, o qual a menina ficou órfã por conta de uma assistente social, passando por muito sofrimento. Naquela época, mesmo eu tendo uma família, eu me sentia muito só revoltado por não poder estudar. Com 15 anos perdi minha mãe, meu irmão Flávio exigiu que meu pai me pusesse na escola, fui estudar na Escola Estadual Henri Duplam. Formei-me com 19 anos, onde os meus convidados de honra foram as pessoa que mais me incentivaram nesta conquista: meu irmão Flávio, minha cunhada Denise e a minha filha Ruthielli, razão do meu viver. Na Escola Henri Duplan, vivi momentos maravilhosos e amizades marcantes: as colegas Mauricéia, Débora, Viviane e Gisele, os colegas Maikel e Hendrigo, ás Professoras Ana Lombardi, Mari Vale e Celoy e tantas outras pessoas especiais que passaram na minha escolar. Lembro que na 8ª série mesmo eu estando grávida participei da Feira de Ciências defendo os Benefícios que a Energia Nuclear trás para nossa vida, na qual eu e a minha colega tiramos o primeiro lugar.
Tive dúvidas em relação sobre qual a profissão que queria ter. Em 1997 fiz o primeiro ano do Curso Técnico de Análise e Química. O professor Clairton Manica era maravilhoso, um ótimo professor. Ele explicava muito bem os conteúdos de Biologia, uma vez chegou a cantar a música do Batavinho (iogurte de criança), para não nos esquecermos do conteúdo que ele havia explicado sobre o cálcio e as vitaminas. A professora Almirita dizia que ela era uma artista, que a sala de aula era o palco e que nós alunos éramos a plateia, por isso ia sempre maquiada e bem vestida e no palco ela ousava do seu conhecimento para explicar o português. Em 1998, no meio do ano resolvi parar o curso, porque percebi que não era exatamente o que eu que a química não era o meu forte.
Em janeiro de 1999, conheci um jovem por quem me apaixonei. Em um mês de namoro fui morar com ele na cidade de General Câmara. Nos arredores da minha casa, havia muitas crianças, no final da tarde iam brincar com nossos filhos. Eu desenvolvia brincadeiras com eles e para os maiores eu ajudava nos temas da escola. Quando resolvi voltar a estudar, meu marido me disse que eu deveria fazer o magistério, porque eu levava jeito com as crianças. Eu sempre tive vontade de ser professora, inclusive eu brincava muito de dar aulas quando eu era criança. Então resolvi fazer o magistério na Escola Vasconcelos Jardim, mas em 2002, por necessidades particulares tivemos que vim morar em Charqueadas. Naquela época havia inscrições para o concurso da Brigada Militar, mas eu teria que ter o antigo segundo grau completo. Resolvi me matricular na Escola Dimensão em Charqueadas, no EJA e fiz os módulos de contabilidade em São Jerônimo, RS. Mas parecia que sempre estava faltando algo na minha formação. Como eu gostava muito de matemática, prestei vestibular na ULBRA de Canoas, passei, estudei um semestre, no entanto não tive condições financeira de terminar os estudos e finalmente percebi que não tinha vocação para as ciências exatas. Para não ficar sem estudar, me matriculei no I.E.E. Assis Chateaubriand, nos Módulos do Curso Normal _ Magistério. Fiz todo curso, vivi grandes emoções nas monitorias, aprendi muito, principalmente a buscar o conhecimento através da pesquisa. Tive ótimas professoras: Débora Bertollo, Cristiane Daniel, Terezinha Nascimento... todas contribuíram para a minha formação. E por ser curiosa, sempre procurei fazer leituras sobre as temáticas em estudo.
Quanto a minha formação docente, passei por muitas experiências que contribuíram para a minha escolha, porque é preciso colocar em prática todo o embasamento teórico que aprendemos. Iniciei como monitora no Maternal II na Escola Municipal de Educação Infantil Criança Feliz, depois fui monitora no Jardim I e no decorrer dos anos no Maternal I, Berçário I e Berçário II. Depois fiz meu estágio curricular na 3ª série da E.M.E. F Maria de Lourdes. No meu estágio curricular ousei em colocar em prática todo o embasamento teórico de Piaget, porque acredito que crianças nas atividades lúdicas desenvolvem seus aspectos cognitivos, afetivos e motores e que jogo constitui-se de uma atividade na qual as crianças procuram compreender o mundo e as ações humanas nas quais se inserem cotidianamente. Ainda quando eu fazia o estagio curricular, participei de uma palestra promovida pela SMED com a Professora Tânia Garcia sobre Parecer Descritivo. Aquela palestra foi muito construtiva para a minha formação profissional, a partir dali procurei ler os livros da Jussara Hoffman, entre eles Avaliação na Pré Escola, que contribui para as avaliações que eu precisei fazer dos alunos do Maternal I. No final do estágio, fizemos uma exposição de todos os trabalhos que os alunos desenvolveram no decorrer das aulas. Em julho de 2006, ao terminar o estágio fui convidada a ser coordenadora Comunitária do Projeto Escola Aberta na escola onde realizei meu estágio. Além de ser coordenadora, eu desenvolvia oficinas pedagógicas, de dança e de teatro. No ano seguinte fui Coordenar o Projeto na E. M.E.F. São Miguel e no turno da tarde alfabetizei uma turma. Nesta escola vivi grandes emoções. Lembro que quando cheguei lá, uma mãe me disse que eu tivesse pulso firme com a sua filha porque caso contrário ela tomaria conta da situação, ainda disse que a menina tinha um gênio forte. Nossa eu fiquei assustada, então comecei observar a criança, suas atitudes, o meio que ela estava inserida a fim de obter um diagnóstico, para eu saber o quê ensinar, como e quando. A menina era repetente, tinha 11 anos e estava no segundo ano. Ela tinha dificuldade para se concentrar, era acompanhada por médico e varias situações na sua vida contribuíram para algumas posturas que ela tinha. Eu sempre gostei de me sentar com os alunos, a fim de sanar suas dificuldades e foi assim que comecei o meu trabalho com a menina. Logo ela se tornou minha amiga, então pude ver uma menina carente, amável, que ninguém tinha visto naquela escola. Tive que ser muito dinâmica nos meus planejamentos, onde procurei alfabetizar com vários recursos, principalmente através de jogos e o alfabeto móvel. Tornamo-nos amigas e até os dias de hoje ela continua progredindo na escola. O diagnóstico mais preciso que tomei como base é que tudo que ela precisava era de uma professora que acreditasse no seu potencial, porque uma criança não pode se sentir diferenciada por necessidades ter necessidades especiais. Na escola aberta procurei promover atividades bem diversificadas, aproveitando o espaço escolar, bem como os espaços de lazer do munícipio e as atividades promovidas pela SMED, Sarau literários, Flecha, etc. Em 2008 voltei para Escola Tia Filó como professora do Maternal I. Nossa quantas lembranças boas! Eu adorava desenvolver com eles atividades que desenvolvesse os movimentos naturais do corpo, através da dança e atividades recreativas. Exploramos muito o faz de conta, onde cada criança expressava seus sentimentos. Lembro que uma vez, quando as crianças brincavam com as bonecas e bichos de pelúcia, onde eram os pais e eu era a médica que atendia seus filhos, observei um aluno em baixo da mesa com um telefone que tirou da caixa de sucata e seu filho um pato de pelúcia. Ele fez uma ligação para a mãe do seu filho e na ligação disse assim: mãe, tu não vai vim buscar teu filho na escola? Ele tá doente, está com febre, tá brigando com os colega, sabe por que mãe? Por que ele tá com muita saudade do pai dele que foi trabalhar em Porto Alegre. Mãe vem buscar teu filho! Naquele momento ele relatou o que estava vivendo, então percebi o porquê da agitação nos últimos dias. Quando ele trouxe seu filho para eu medicar, eu aproveitei o momento para trabalhar os seus sentimentos. Disse que a criança não precisava ficar triste, por que o papai dele estava trabalhando, mas ia voltar e que a mamãe também estava trabalhando, mas no final da aula viria busca-lo. Outro caso foi de e uma aluna. Um dia fomos dar banho nas bonecas. Era um dia quente, pegamos as banheiras da escola para dar banhos nas bonecas, para trabalhar a higiene. Uma criança relatou na brincadeira que sua filha a boneca estava gostando muito daquele banho, porque na sua casa não tinha banheiro. Na verdade ela estava falando de suas vivências, então eu aproveitei para falar que ela podia comprar uma bacia grande ou uma banheira para dar banho na sua filha. Então ela disse que ia pedir para sua mãe esquentar a agua no fogão e continuamos conversando sobre a importância da higiene para a saúde e a partir daquele dia a menina passou a pedir para mãe que queria tomar banho todos os dias. Também me lembro de um menino tinha medo de brincar, porque achava que ia se machucar. Tinha medo subir no escorregador, por causa da altura, tinha medo de máscaras e outras coisas. Nas atividades fui desenvolvendo atividades que o encorajasse a perder o medo, sempre respeitando os limites dele. Eu desenvolvia atividades com dança e o cantinho da fantasia. As crianças escolhiam suas fantasias e aos poucos ele foi se acostumando com as máscaras. Eu também colocava as cadeiras uma do lado da outra para que os alunos caminhassem por cima para desenvolver o equilíbrio e por baixo para desenvolver a noção de espaço e os movimentos naturais do corpo. Quando chegava a vez dele ele resistia um pouco, então eu dava a mão para ele e o convidava, e devagarinho ele foi superando todos os obstáculos. Um dia quando a mãe daquela criança o viu subir no escorregador da escola, ficou em pânico achando que seu filho ia cair. Então percebi que a mãe era quem passava insegurança para o filho. Procurei conversar com a mãe e numa das conversas ela disse que preferia que seu filho tivesse medo, pois não teria perigo de se machucar. Então promovi algumas brincadeiras na semana da criança, para que os pais pudessem participar com seus filhos e os convidei para um seminário sobre o livro Você já abraçou seu filho hoje? De Gilberto Barros. Para cada mãe ou pai, foi distribuído um capítulo para eles lerem. No final fizemos um seminário para os pais refletiram sobre o que leram e também sobre a importância do brincar na vida da criança. Foi muito interessante, porque eles fizeram alguns relatos e falaram sobre suas angustias. Depois, mudou a administração municipal não consegui mais contrato, mas fui convidada para Assessorar a vereadora Rosângela, onde já fiz muitos trabalhos voltadas à educação popular com a comunidade local, com a Pastoral da criança e nos Clubes de mães de Charqueadas, este trabalho fez acender a vontade de fazer o Curso de Licenciatura em Educação do Campo, porque passei a trabalhar nas periferias urbanas e no Conselho da Agricultura da cidade. Eu poderia citar outras vivências que vivi nas minhas práticas pedagógicas, porque tenho a certeza de que mais adiante minha memória trará novas lembranças, mas para o momento são as que me veio na mente.
Quanto as minhas memórias nos relacionamentos como namorada, esposa e mãe, posso registrar que engravidei do meu noivo aos dezoito anos de idade e quando descobri eu já havia terminado o namoro com ele, porque eu não queria um compromisso, eu tinha sonhos, queria estudar, ter uma profissão. Fiquei apavorada, mas assumiu a minha responsabilidade e continuei tocando a vida. Em outubro de 1996 nasce a minha filha Ruthielli Medeiros. Quando ela era bebê era muito esperta, eu ficava fascinava de ver a linguagem que ela usava para falar. A primeira palavra que ela falou foi papai, depois mamá, mamã (mamãe), bobó (vovó), bibico (bico), mamá e papá. Quando ela tinha pouco mais de um ano, eu perguntava cadê o nenê da mamãe? Ela respondia tá aqui e batia com a mãozinha no peito mostrando que era ela. A minha filha adorava dançar e cantar. E não podia ver uma câmara fotográfica que já fazia pose. Ela foi para o Jardim com cinco anos de idade e adorava ouvir histórias infantis. Fiz uma coleção de livros e todas as noites eu contava histórias para ela dormir. Ela adorava um livro que eu lia Folclore e C&A, que contava as lendas do nosso folclore, parlendas, provérbios e o que é o que é? Aos seis anos de idade ela lia perfeitamente bem e ela própria escolhia seus livros. Ela teve uma infância muito saudável e também viajava no faz de conta. Além da minha filha, na minha casa morava o meu enteado Douglas e nos finais de semana, o Dionatas vinha também. De noite eu adorava fazer brincadeiras com eles, na verdade até hoje nós brincamos de roda da fortuna, o que é o que é? Dominó. Nos finais de semana adoramos ter um momento para assistir vídeos no you tube, ontem, por exemplo, assistimos uma comovente história sobre um cão que perdeu seu companheiro atropelado. Ele fazia de tudo com a patinha e o focinho para acordar o amigo e quando alguém chegava perto ele latia e rosnava, depois de horas tentando, com um gesto comovente parece que se despediu do seu amigo e como lição de vida refletimos na importância de valorizar os nossos amigos, as pessoas a quem amamos.
Até meus 21 anos de idade o máximo que conheci além de Charqueadas era algumas cidades da região carbonífera. Depois conheci a praia de mar, fui ao Parque Aquático Aqualocos com as crianças e nos divertimos muito. Às vezes percebo que gosto mais de folia do que eles, porque adoro inventar coisas pra nós fazermos juntos. Procuro sempre envolver meu marido, porque ele é muito sério e às vezes conseguimos ouvir algumas risadas.
São muitas lembranças que certamente contribuíram para eu ser quem eu sou. Reviver o passado é simplesmente maravilhoso, mais do que nunca percebo a importância do brincar na vida de uma criança. Tive uma infância saudável, diferente dos tempos de hoje. Eu não tinha um computador, um vídeo game e nem um celular. Meus brinquedos eram a maioria de sucata, mas se transformavam no que eu queria, copos de iogurte se transformavam em telefones, latas de leite ninho em panelas ou pé de lata, meias de nylon rasgada se transformavam em bola, saco de plástico do açúcar cristal viravam pipas, as caixas de papelão em casas, e assim ia curtindo a vida de maneira gostosa. Lembranças triste não tenho muitas, acredito que antes da minha mãe falecer até não tive nenhuma, mas depois que ela morreu tive que aprender a viver, porque ela sempre foi muito protetora. Ela não me criava para a vida, era uma mulher de pouca conversa, era uma boa mãe, mas protetora de mais. Ela não deixava ir à praia com o meu irmão porque tinha medo de me perder. Eu entendo que era a forma dela pensar, mas hoje tudo o que percebo é a necessidade de educar, uma educação que dá autonomia, tal como Paulo Freire fala em seu livro Pedagogia da Autonomia, por isso resolvi ser professora para fazer a diferença, sabendo que somos seres humanos inacabados, mas capazes de nos transformar.
Diante deste Museu Imaginário, onde estou expondo a minha memória, quero relatar que cada vivência contribuiu na minha formação como professora e sei que muitas outras virão. Em cada situação, tenho a minha vida como exemplo, percebendo a necessidade do brincar na vida da criança, de criarmos os filhos para a vida e de contribuir na formação de alunos observadores e críticos, capazes de buscar o conhecimento.
"A Educação qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática."
Paulo Freire
O Museu Imáginário foi uma atividade proposta pelos professores do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFPEL - Polo Arroio dos Ratos, com o objetivo de conhecer as vivências que contribuiram para a minha formação profissional.
ResponderExcluir"Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!"
Paulo Freire